Recentemente, o cientista brasileiro Miguel Nicolelis foi até um podcast e teceu várias críticas à mineração, incluindo o já famoso “alto consumo de energia” da rede. Mas será mesmo que o Bitcoin é um grande vilão para o meio ambiente?
Na visão de Nicolelis — e de outros críticos da mineração — a atividade já consome mais energia do que vários países, e tudo apenas para transacionar Bitcoins. “Isso não é um gasto eficiente de energia”, dizem os críticos.
Só que a mineração influencia não apenas no preço do Bitcoin, mas também tem impactos ambientais positivos e pode até tornar a matriz energética de um país mais limpa.
A mineração de Bitcoin
O Bitcoin utiliza o modelo de Prova de Trabalho, ou Proof of Work (PoW), no qual várias máquinas fazem cálculos em busca de uma solução matemática. Cada máquina tem um nível de consumo de energia diferente.
Atualmente, a mineração envolve vários galpões com essas máquinas que produzem os blocos da rede. Como elas ficam ligadas 24 horas por dia, a atividade consome bastante eletricidade.
Dados da ONU que avaliaram a mineração de Bitcoin no período 2020-2021 mostram que a rede consumiu 173,42 Terawatts-hora (Tw/h) de eletricidade. Se o Bitcoin fosse um país, consumiria mais eletricidade do que nações como a Islândia e Argentina. Mas será que esse consumo é totalmente inútil ou ineficiente?
Falhas de comparação
O Bitcoin tem uma função específica: oferecer um dinheiro digital sem fronteiras e que funciona 24 horas por dia. Logo, ele é uma rede com um fim determinado, e não um sistema complexo.
Por isso, o mais correto seria comparar o consumo de energia do Bitcoin com o consumo de todo o sistema financeiro global, incluindo ATMs, agências físicas, data centers de bancos e sistemas de pagamentos. Afinal, ambos são sistemas voltados para funções bem semelhantes.
E nessa comparação, a atividade de mineração é vista por outro prisma. Conforme dados do Bitcoin Mining Council (BMC), de 2023, enquanto o setor de seguros e o sistema financeiro consumiram cerca de 4.939 TWh, a rede Bitcoin utilizou em média de 348 TWh.
Essa informação evidencia a utilização de energia do Bitcoin, a qual corresponde a uma fração do consumo total do sistema financeiro tradicional, revelando uma comparação mais justa e contextualizada. Mesmo com os dados do BMC apontando para um crescimento do consumo de energia do BTC, ele ainda é uma parte ínfima disso.
Reaproveitando energia
Além do baixo consumo, a mineração de Bitcoin é bastante sustentável. Cerca de 16% da demanda total de eletricidade da rede global de mineração de Bitcoin vem de usinas hidrelétricas. Outros 9% da energia usada na mineração de BTC vem de energia nuclear, que também é uma fonte não poluente.
Nos Estados Unidos, que detém 35% de toda a mineração global de Bitcoin, já existem mineradores que utilizam o metano gerado em plataformas de petróleo para minerar BTC. Com isso, ao invés deste gás ser desperdiçado via queima (o famoso flare), ele passa a virar fonte de energia para gerar BTC e não vai para a atmosfera.
Como ainda não há formas de armazenar o excedente de energia vindo dessas fontes, a mineração pode servir como uma forma de trazer equilíbrio para a rede. Ao mesmo tempo que esse tipo de atividade gera receita através da recompensa dos blocos em BTC, ela contribui para aumentar a demanda por fontes alternativas de energia.
Conclusão
Em suma, a mineração de Bitcoin de fato consome bastante energia, mas o que realmente importa é a origem da energia consumida. E à medida que a mineração segue consumindo mais energia, as empresas conseguem diversificar e trazer fontes cada vez mais limpas.
Dada a sua busca por eficiência e a grande capacidade de mobilidade que os mineradores possuem, a indústria é uma das que tem mais condições de renovar sua produção de energia e acabar beneficiando o meio ambiente na busca por reduzir as emissões de carbono.